Em meio a polêmicas, dois corredores de ônibus em Campo Grande podem ser reformulados

Mais de uma década após serem idealizados, os corredores exclusivos para ônibus em Campo Grande continuam sendo um marco para o trânsito da cidade que divide opiniões. Para uns, melhoria e agilidade no transporte público. Para outros, a causa de acidentes e da queda de vendas nas vias que aram por reordenamento.

Neste ano, os projetos voltaram ao debate com a retomada das obras do Corredor Sudoeste — e, em alguns casos, podem ser remodelados. A Rua Bahia e Avenida Calógeras, que integram o sistema viário do Corredor Sul da Capital, estão no centro dessas reformulações.

Reformulação

Secretário municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos, Marcelo Miglioli afirma que o projeto original pode ar por alterações, conforme sugestões colhidas em audiências públicas com os moradores das regiões.

“Estamos estudando a possibilidade de mudar o projeto da Calógeras e da Bahia. Já fizemos audiências com a população, ouvindo os usuários. Ainda não há uma definição se manteremos ou alteraremos o projeto. Vamos fazer o que for melhor para a sociedade campo-grandense. O espírito da obra é atender as pessoas, não criar problemas”, declarou.

A Avenida Calógeras integra o projeto do Corredor Sul, que prevê a ligação entre as avenidas Mato Grosso e Eduardo Elias Zahran. A região concentra grande fluxo de ônibus, com 101 coletivos por dia, distribuídos em 26 linhas que transportam cerca de 30 mil ageiros. O projeto prevê o recapeamento completo da via, construção de cinco estações de embarque e desembarque, além de nova sinalização.

Inicialmente, o plano também incluía uma ciclovia de 1.540 metros entre as avenidas Afonso Pena e Salgado Filho — estrutura que, segundo comerciantes da região, acabou sendo retirada do escopo

Já a Rua Bahia faz parte do primeiro trecho do Corredor Norte, ligando a Avenida Afonso Pena ao Terminal General Osório. No projeto, estão previstas quatro estações de embarque nas esquinas com as ruas da Paz, Antônio Maria Coelho, das Garças e das Paineiras.

Disputa judicial

Além disso, o Corredor da Bahia é alvo de uma disputa judicial. Em 2020, um grupo formado por 11 comerciantes acionou a Justiça, alegando não terem sido consultados sobre a construção do corredor. O grupo impetrou a ação no mesmo ano, mas a liminar que solicitava a paralisação das obras acabou negada.

A sentença de primeiro grau, assinada pelo juiz Ariovaldo Nantes Corrêa, da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, de agosto de 2023, julgou improcedentes os pedidos feitos na petição inicial. A sentença está sujeita a reexame necessário.

Na decisão, o juiz afirma que não constatou nenhuma ilegalidade ou irregularidade que pudesse lesar ou ameaçar direitos constitucionalmente garantidos. Também não identificou atos lesivos ao ente público, seja em sentido material ou imaterial.

“Embora os requerentes manifestem descontentamento com as obras realizadas pelo requerido, nenhuma ilegalidade ou irregularidade na implementação dos corredores exclusivos para ônibus demonstrada, não cabendo ao Poder Judiciário intervir na decisão do público”, escreveu.

Os moradores e lojistas recorreram ao Tribunal de Justiça, mas sofreram nova derrota em fevereiro de 2024. Na decisão, os desembargadores da 1ª Câmara Cível relataram que os comerciantes alegaram falta de debate público e ausência de audiências. No entanto, os documentos anexados ao processo e as informações prestadas comprovaram que houve, sim, audiência pública.

Rua Bahia é uma das vias que deve receber as obras. (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Obras retomadas no Corredor Sudoeste

Enquanto Bahia e Calógeras podem ar por reavaliação, as obras no Corredor Sudoeste — que compreende as avenidas Gunter Hans e Marechal Deodoro — foram oficialmente retomadas em abril, após sucessivas paralisações. Com investimento de R$ 9,6 milhões e execução da empresa Engevil Engenharia Ltda., a obra ficou anos parada e só teve a retomada após nova licitação aberta em novembro de 2024.

O corredor, planejado para ligar o Terminal Aero Rancho ao Centro, inclui a construção de quatro plataformas de parada de ônibus entre o Trevo Imbirussu e o terminal. Os pontos de embarque estão sendo transferidos das laterais para o canteiro central, e a faixa da esquerda da via ficará exclusiva ao transporte coletivo.

No entanto, a trajetória da obra está marcada por atrasos. A primeira fase começou em 2018, mas acabou interrompida. Em 2020, o município recebeu recursos do PAC 2 – Mobilidade Grandes Cidades para executar 34 km de corredores, incluindo os da Marechal Deodoro. Conforme o Portal +Obras da Prefeitura, o projeto tinha um prazo inicial de 21 meses a partir de abril de 2021 — meta não cumprida.

Obra do corredor de ônibus na Av. Gunter Hans (Helder Carvalho, Midiamax)

Corredor da Rui Barbosa: palco de acidentes e alvo de críticas

Enquanto alguns projetos são reavaliados, o corredor da Rui Barbosa continua sob críticas, principalmente pelo número de acidentes registrados desde sua inauguração em 2022. O trecho liga o Terminal Morenão às ruas Chile, Quintino Bocaiúva e Rui Barbosa.

Em 2024, levantamento do Jornal Midiamax apontou pelo menos 20 ocorrências após a implantação da faixa exclusiva de ônibus. Apesar disso, o ex-diretor da Agetran, Janine de Lima Bruno, afirmou durante a I do Consórcio Guaicurus desconhecer os acidentes e declarou que “o trânsito melhorou muito ali”.

A faixa exclusiva está implantada no lado esquerdo da via, e muitos acidentes ocorrem quando motoristas tentam conversões à esquerda a partir da faixa central. A Agetran reforça que a manobra só pode ser feita ando a faixa exclusiva 50 metros antes da esquina, independentemente de a sinalização ser contínua ou tracejada. No entanto, o tráfego contínuo nessa faixa está proibido a veículos comuns.

‘Não há previsão de reformulação’
Corredor Rui Barbosa (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Segundo Marcelo Miglioli, não há previsão de reformulação do corredor da Rui Barbosa, já que, para ele, a maioria dos acidentes decorre de imprudência dos condutores.

“Os acidentes na Rui Barbosa, em sua grande maioria, ocorreram por falha do condutor. É difícil fazer uma obra pensando em como suprir a falha humana. Temos que atacar a causa, não o efeito. O efeito é o acidente; a causa, a imprudência”, afirmou o secretário.